sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Te vi com olhos de rato, como quem olha pro queijo na ratoeira. Um queijo passado do ponto, de odor que contorce meu intestino delgado. Fiquei a espreita no aguardo da sua ida sem voltas e mais voltas no mesmo lugar, cachorro que brinca com o rabo, cobra em circulo que ao mesmo tempo que se come é alimento, fiquei a te observar com três pernadas e meias, descalça. Fiquei. Te olhei com olhos selvagens e rangir de dentes, só esperando, só sabendo o momento de tão previsível aconteceria. Te olhei como se olha pra quaisquer coisa, como que fofoca. Não dóis. Te olhei com os olhos da cara que tanto me custaram. Você e açai. Menina de cabelo cacheado e umas tatuagens, e você açando aí, bem no meio das pernas, querendo gosmar na boca e achar engraçado. Não é. Nunca foi. Você perdeu a graça porque teu corpo é dado, que se joga pro lado que quiser. Qualquer coisa de qualquer uma de qualquer encontro de nada. Sua mão desliza na dela como já deslizou na minha, como já deslizou nas suas exs algumas coisas. Não escrevo por ter deixado coisas caírem de minha cara ou por ter espremido a espinha que guardo no meio do peito, escrevo porque acho importante colocar para fora o que um dia já esteve de passagem por dentro.
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